Para rezar a Palavra de Deus devo compreender, antes de tudo, que a Palavra de Deus, é o mesmo Deus que se comunica comigo.
“Toda a Sagrada Escritura é inspirada por Deus e é útil para ensinar, para repreender, para corrigir e para formar na justiça. Por ela, o homem de Deus se torna perfeito, capacitado para toda boa obra". (cf. II Timóteo 3,16-17).
Para rezar a Palavra de Deus devo compreender, antes de tudo, que a Palavra de Deus é o mesmo Deus que se comunica comigo. Por isso, quando desejo entrar em íntima comunhão com Jesus, com o Pai ou com o Espírito Santo, devo estar ciente que estou em comunhão com Pessoas com quais posso falar, ouvir, responder, perguntar.
Por ser este um momento sagrado de comunhão, preciso preparar-me para viver esta experiência; do mesmo modo como quando vou para uma festa ou para um encontro especial, preparo-me vestindo a melhor roupa e com tudo o que me faz sentir bem para o encontro. Assim é com o encontro com Deus. Preparo o meu coração fazendo silêncio para desligar-me de tudo o que está dentro ou fora de mim que possa impedir ou perturbar este momento tão importante.
E o que é o silêncio? O silêncio é a sede privilegiada da Palavra. É o habitat da Palavra. Deus ama falar no silêncio, faz-se sentir, muda, ajuda, transforma. Empenhar-me em ser uma pessoa que eleva a estilo de vida o recolhimento. Falar sim, mas o necessário. É importante exercitar-se no recolhimento para dar lugar à Palavra de Deus. Para ouvir a Palavra de Deus devo estar em um espaço sagrado. O silêncio é comunhão com Deus, é como um lugar de chegada do caminho interior que não sempre é fácil porque requer uma experiência de um tu a tu consigo mesmo, como sou, não como pensam os outros. Ver-me como realmente sou.
Por que este tu a tu consigo mesmo? Porque nos leva a um tu a tu com o Senhor, com grande simplicidade, humildade e abandono para entrar em íntima comunhão com Ele. Penso em Moisés que sobe ao Monte para falar com o Senhor. Ele não sabe o que o Senhor lhe dirá. Vai como uma folha em branco e o Senhor escreve. O meu encontro com o Senhor acontece quando me decido a olhar para dentro de mim mesmo. É o momento em que Deus me acolhe. Ele me expande sem que eu diga palavras.
Mas, atenção! Há um termômetro para ver o que o Senhor faz comigo. É o modo como eu entro em comunhão com os irmãos. Para saber se estou no caminho espiritual é só ver como me relaciono com as pessoas. Se tenho um bom relacionamento com os outros é sinal de que o meu relacionamento com Deus é verdadeiro. Ao sair do meu encontro com Deus, na oração, devo ser capaz de criar uma rede de bons relacionamentos.
O silêncio de oração é quando me coloco diante de Deus sem palavras. Fico na escuta do Senhor especialmente no momento da adoração. Se estou passando por um momento de dor e entrego tudo ao Senhor, fiz uma grande oração e experimento o que é ser livre. A oferta da dor ao Senhor torna-se uma preciosíssima oração mais do que qualquer palavra que eu disser. Se é um momento de choro diante do Senhor, sei que Ele acolhe as lágrimas como pérolas, como pedras preciosas.
Para que eu possa rezar bem a Palavra de Deus devo colocar-me na escola do silêncio e ouvir a Sua Palavra. Silenciar para descobrir o que o Espírito Santo me quer comunicar. Devo aprender a valorizar e respeitar a palavra que pronuncio. Quanto mais eu silenciar, mais preciosas serão as minhas palavras.
O profeta Jeremias (15, 16-21) me ajuda neste desejo de rezar a Palavra de Deus:
“Quando encontrei tuas palavras, alimentei-me, elas se tornaram para mim uma delícia e a alegria do coração, o modo como invocar teu nome sobre mim, Senhor Deus dos exércitos. Não costumo frequentar a roda dos folgazões e gabo-me disso; fiquei a sós, sob o influxo de tua presença e cheio de indignação. Por que se tornou eterna minha dor, por que não sara minha chaga maligna? Para mim te tornaste como miragem de um regato, como visão de águas ilusórias”. Ainda assim, isto diz-me o Senhor: “Se te converteres, converterei teu coração, para te sustentares em minha presença; se souberes separar o precioso do vil, falarás por minha boca; os outros voltarão para ti, e tu não voltarás para eles. Em favor deste povo, farei de ti uma muralha de bronze fortificada; combaterão contra ti, mas não prevalecerão, porque eu estou contigo para te salvar e te defender, diz o Senhor. Eu te libertarei das mãos dos perversos e te salvarei dos prepotentes”.
Feito este preâmbulo como preparação para bem rezar a Palavra de Deus, tomo o texto escolhido, leio atentamente, uma ou duas vezes, saboreando as palavras e deixando que calem profundamente no coração, peço a luz do Divino Espírito para que eu escute atentamente o que o Senhor me diz e quer de mim.
Para concluir, é importante ter presente que a melhor mestra de oração foi Maria Santíssima que foi escolhida para gerar o Verbo, a Palavra de Deus, que se fez Carne e veio viver a nossa vida nesta terra e para nos salvar. Imaginemos a Virgem Maria contemplando o Menino em seus braços, em profunda oração e repetindo “A minha alma engrandece o Senhor e se alegra meu espírito em Deus meu Salvador, porque olhou para minha humildade". Que a Virgem silenciosa me ensine a silenciar.
Outra grande mestra de oração foi a Fundadora das Apóstolas do Sagrado Coração de Jesus, a Bem-Aventurada Clélia Merloni que escreveu assim para as suas filhas e, certamente, para todos os que buscam se aprofundar na oração através da Palavra de Deus: “Experimentai um pouco, filhas, afastar-vos das distrações do mundo e passar alguns instantes de recolhimento e de oração diante de Jesus Sacramentado, e vereis quanta luz resplandecerá em vossa inteligência, quanta paz e quanta consolação sentirá vossa alma”.
Ir. Maria Josefina Suzin, ASCJ