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O filme “O preço do Amanhã” apresenta uma ideia bastante pretensiosa e futurista, mas, ao mesmo tempo, muito realista sobre os desejos humanos: queremos viver para sempre, mas não queremos envelhecer. O diretor deixa essa premissa bastante em aberto durante o desenrolar da trama e parte para uma reflexão maior sobre a desigualdade que esse desejo gera, e isso, para alguns críticos, acabou ficando como um ponto negativo dessa obra.
Porém, sabemos que se qualquer obra de arte é “explicada demais”, acaba por deixar de lado nossa própria capacidade de colher dela aquilo que pessoalmente é falado. E dessa forma, acredito que se trata de um filme que vale a pena assistir, deixando se impactar por essa realidade tão misteriosa quanto desejada que é a eternidade.
Ao apresentar o tempo como moeda e um saldo bancário como que cravado na pele, como um relógio, o filme oferece duas realidades bastante distintas: os que têm tempo de sobra e os que têm apenas alguns minutos. Os primeiros podem caminhar calmamente; nada como saber que temos tempo para realizar algo com que nos comprometemos, para nos acalmar, sabendo que tudo está sob controle. Por outro lado, se nossa vida dependesse dos próximos minutos, precisaríamos engatar uma corrida desenfreada para alcançar o objetivo esperado.
E assim foi, até que alguém se indignou, pois esta diferença poderia não ser justa. O protagonista do filme faz, então, aquilo que muitas vezes nós temos tanta vontade de fazer: redistribuir o tempo — ou a riqueza — para que todos pudessem viver o bastante e com o bastante. Quase como um Robin Hood do futuro.
O Preço do Amanhã apresenta algumas cenas de ação que podem nos deixar um pouco elétricos ou impactados, mas acredito que isso faça parte da proposta. Nos faz movimentar de nossas próprias conformidades.
Depois de ver o filme, algumas indicações para a oração:
Já ouvimos o ditado: “tempo é dinheiro”, mas aqui somos levados à reflexão contrária. E se o dinheiro, nossa maior riqueza, fosse na verdade o tempo? E será que, na verdade, não o é, muitas vezes? Sabemos que poucos têm muito dinheiro, mas se não tivessem tempo, o que poderia ser feito com tanto? Hoje mesmo, com toda essa situação provocada pela pandemia, o que estamos fazendo com o nosso tempo que “sobra” mais do que antes?
Antes de pensarmos sobre nossa desigualdade e injustiça social, seria bom pensarmos um pouco como estamos gastando um grande tesouro que temos, que é o nosso tempo. Temos oferecido a quem e a que? Tem valido a pena?
Jesus não economizava seu tempo quando estava com os outros. Estava inteiro com sua família em Nazaré, estava inteiro com os apóstolos, e quanta paciência ao ensiná-los! Estava com os discípulos, com os doentes, com os que precisavam Dele. Ao estar presente, diante de alguém, de uma pessoa que fala e nós ouvimos, é primordial olhar como Jesus estava 100%. Ele nos ensina aqui que, se é para dar tempo, ofereça-o com qualidade. Ainda temos tanto a aprender.
Nosso tempo na terra é missão, é compromisso! Por isso, é uma grande riqueza. Devemos olhar para nós mesmos e para nossos desejos com discernimento, mas não deixar de sonhar e sempre refletir se o meu querer mais não está deixando o outro com menos possibilidades de querer.
Desejamos a eternidade, e em Deus nós a teremos. Mas podemos desejar que ela começe aqui, com os nossos desejos de hoje. Deixemos, então, que o encontro com Jesus seja, também, para que Ele nos mostre nossos desejos que mais combinam com os seus e nos transforme.
Convido a rezar uma passagem da Sagrada Escritura que se encaixa bem com este pequeno filme e tê-la em mente nos próximos dias. Talvez escrevendo o trecho que mais lhe tocou em uma folha e pendurá-la em um local de passagem ou estratégico da casa.
"E eis que havia ali um homem chamado Zaqueu; e era este um chefe dos publicanos, e era rico. E procurava ver quem era Jesus, e não podia, por causa da multidão, pois era de pequena estatura. E, correndo adiante, subiu a uma figueira brava para o ver; porque havia de passar por ali. E quando Jesus chegou àquele lugar, olhando para cima, viu-o e disse-lhe: Zaqueu, desce depressa, porque hoje me convém pousar em tua casa. E, apressando-se, desceu, e recebeu-o alegremente. E, vendo todos isto, murmuravam, dizendo que entrara para ser hóspede de um homem pecador. E, levantando-se Zaqueu, disse ao Senhor: Senhor, eis que eu dou aos pobres metade dos meus bens; e, se nalguma coisa tenho defraudado alguém, o restituo quadruplicado. E disse-lhe Jesus: Hoje veio a salvação a esta casa, pois também este é filho de Abraão. Porque o Filho do homem veio buscar e salvar o que se havia perdido. " (Lc 19,2-10)
Ó Pai, minha existência é minha maior riqueza.
Quantas vezes não tenho noção do que sou e do que posso!
Mas entendo que meu coração deseja a eternidade e a beleza,
E que estas são dons do teu Amor a nós.
Dá-me a graça de oferecer em gratidão cada minuto
e segundo em atenção amorosa a ti e aos meus irmãos.
Amém.
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