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Qual seria o limite entre admiração e fanatismo? O filme ganhador do Oscar de melhor roteiro adaptado ganhou um total de 33 prêmios e recebeu mais de 150 indicações tratando de um período bastante difícil para a humanidade: o nazismo. E o mais incrível deste filme, além das excelentes atuações, foi a capacidade de mostrar parte desse momento extremamente desumano através de um filme de comédia. Sem deixar cair no desrespeito às tantas vítimas desta ideologia de extrema direita, particularmente os judeus, o roteiro consegue nos levar a reflexões interessantes sobre nossos valores humanos.
O personagem principal vive sua infância como qualquer criança comum, porém marcada por uma realidade de guerra, a Segunda Guerra Mundial. Tem seus amigos e, apesar do pai ausente, sente-se realizado e extremamente feliz com seu amigo imaginário: ninguém menos que Adolf Hitler. Um Hitler um tanto desajeitado e por vezes até mesmo simpático e sensível às dores da criança. Mas o papel dele nos faz pensar nesta necessidade que todos nós temos – e ainda mais as crianças – de referências, boas referências.
Hoje, podemos perceber que o mundo precisa de pessoas que inspirem. Todos nós precisamos de exemplos positivos, não para serem nossos “super-heróis”, como mais parecia ser aquele amigo imaginário do filme, mas pessoas santas, como a Igreja nos aponta, que nos façam perceber que ser bom é possível, não é fora de moda e, ainda mais, é o que pode fazer com que o mundo seja mais humano.
Depois de ver o filme, algumas indicações para a oração:
Não podemos deixar de lembrar das brigas político partidárias que temos assistido diariamente nos noticiários, e que têm feito o Brasil caminhar cada vez mais lentamente para uma consciência mais política e menos partidária. Acreditar em algo ou em alguém é importante e até mesmo vital para o ser humano. Porém, aquilo que julgamos nos fazer mais humanos não pode estar fundamentado em fazer outros “menos humanos” do que nós.
Toda ideia religiosa, por exemplo, é válida pela capacidade que ela carrega de oferecer vida verdadeira a todos os seres humanos, sem distinção. Quando uma ideia, ou mesmo uma religião, passam ao nível de proselitismo, caem no perigo de se tornarem “donas” da verdade, e daí, todo o pensamento crítico é deletado.
Diziamos há pouco que todos os seres humanos precisam de uma referência. Alguém para quem olhamos ou com quem criamos certa relação, e que seja uma pessoa inspiradora.
Falar da fama de Jesus em sua época, e de como Ele é a referência por excelência dos cristãos, pode até não parecer muito justo, por Ele estar há dois mil anos distante de nós. Mas, ao mesmo tempo, pode nos ajudar no sentido de perceber que alguém que inspira, também incomoda.
Deus era o fundamento, era a própria vida de Jesus homem-Deus. N’Ele, tantas pessoas encontraram e encontram inspiração para a própria vida. E isto acontece conosco, com todos, desde cedo. Precisamos de referências para crescer na virtude, alguém que nos ensine, ainda quando crianças, a capacidade de doação, de partilha, de fraternidade.
Sim, Jesus deu a vida por nós quando éramos pecadores, nos disse São Paulo. Talvez nunca sejamos “bons” o suficiente para nós mesmos. Talvez nossas ideias, nossos ideais e até nossas ideologias nos façam balançar quando percebemos que elas não estão gerando vida.
Não, não somos perfeitos, e não precisamos ser para Deus. Mas, ao reconhecer que algo em mim está gerando morte, ao invés de gerar vida, devo sim parar para refletir sobre minhas ações e palavras. Meu “direito” acaba quando começa o do outro, dizem alguns. E , ainda, meu direito deve incluir o outro; deve ser capaz de perceber que o desejar ao outro o que desejo para mim – nossa regra de ouro – deve valer mais do que simplesmente provar que minhas ideias valem mais do que as suas.
Deus sabe o que se passa no nosso coração, nosso desejo de felicidade, de plenitude. E Ele é capaz de pacificar e unificar o nosso coração, com Ele, conosco mesmos e com os outros. Peçamos esta graça.
Convido a rezar uma passagem da Sagrada Escritura que se encaixa bem com este pequeno filme e tê-la em mente nos próximos dias. Talvez escrevendo o trecho que mais lhe tocou em uma folha e pendurá-la em um local de passagem ou estratégico da casa.
“Sabemos que é muito difícil que alguém se disponha a morrer por um justo; embora por uma pessoa que se dedique ao bem, talvez, alguém tenha a coragem de dispor sua vida. Porém, Deus comprova seu amor para conosco pelo fato de ter Cristo morrido em nosso benefício quando ainda andávamos no pecado.” (Rm 5, 7-8)
Senhor meu Deus,
Tu me criaste capaz de pensar,
de amar e de promover a vida.
Faz que meu desejo de ser melhor
Passe por um senso de justiça,
Que inclua o outro.
Que todos sejam um, sejam plenos,
E que meus desejos mais profundos
Sejam cheios de sensibilidade
E não sejam cegos à
fraternidade, à empatia e à compaixão.
Amém.
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