Quando falamos em educação e disciplina infantil, é fundamental situar nosso lugar como pais e educadores na vida de nossas crianças, assim como atentar às características de nossa sociedade e do mundo em que vivemos atualmente. Não podemos desconsiderar, por exemplo, o advento da internet, tanto no acesso e rapidez das informações (reais ou não) e redes sociais, como os impactos trazidos pelo distanciamento e isolamento social frente a pandemia COVID-19. Não menos importante, é necessária a reflexão sobre os aspectos psicológicos nas vivências anteriores dos próprios pais, na época em que ainda eram filhos e que, sem dúvida alguma, poderá influenciar na construção do papel materno e paterno.
Da mesma forma, é necessário compreender qual é o tipo de disciplina que pretendemos inserir na educação dos pequenos, visto que os limites são essenciais para auxiliar na formação de um adulto mais independente e maduro e do caráter para o enfrentamento dos desafios do mundo atual. Assim, os limites ou restrições devem ser inseridos de forma planejada e estratégica, através de comunicação clara, bem definida, em sintonia e concordância por ambos os pais. A seguir, são elencados alguns pontos importantes que visam auxiliar os pais na tarefa de estabelecer os limites e regras.
Mesmo quando alguma situação parece insustentável, é importante evitar qualquer tipo de agressão física, uma simples “chinelada” recorrente pode trazer repercussões negativas para as crianças segundo os especialistas. Crianças que apanham podem crescer mais antissociais, desafiadoras, agressivas e podem ter problemas cognitivos. Então, apesar de parecer um caminho fácil e eficiente, evite bater na criança para impor limites.
Os limites na educação de filhos podem ser trabalhados tendo como base o diálogo. O caminho da conversa é recorrente e exige um esforço maior por parte dos pais. Nem sempre é fácil ser firme e seguro ao dar uma ordem. Muitas vezes, a criança pode não entender e os pais ficarem confusos, sem saber o que fazer. Portanto, repetir e educar vai fazer parte da rotina dos pais.
Para a grande maioria das crianças, os “combinados” ou “acordos” relativos a algum comportamento costumam funcionar bem. É interessante trabalhar a idéia de causa e efeito, ou consequências dos comportamentos. Nesse sentido, firma-se uma “parceria” antes de algum evento importante, no qual a criança precisa atingir um objetivo estipulado. Por exemplo, ao ir ao shopping center, os pais podem deixar claro para a criança que naquele dia não será comprado brinquedo algum. Os limites combinados ajudam a entender as regras e evitam ansiedade desnecessária e, principalmente, anulam situações ruins ou desagradáveis para os pais.
Outro ponto que pode interferir no processo de estabelecer limites é o respeito à faixa etária. No processo de educação, é importante que os pais conheçam e adequem seu comportamento perante os filhos. Por exemplo, bebês não jogam um brinquedo no chão para desafiar seus pais. Muitas vezes, é uma atitude quase que involuntária e, nesse caso, perder a paciência ou tentar ensinar pode ser uma atitude frustrante. Assim, é importante atentar para as características da idade para diferenciar se é uma questão de educação ou do desenvolvimento. A partir disso, fica muito mais simples inserir limites de forma eficiente.
Visando minimizar o impacto negativo da palavra “castigo” que foi utilizada durante muitas e muitas décadas, hoje os especialistas usam o termo “retirar o direito” de algo que impacta de forma positiva, ou seja, privar a criança de ver seu desenho preferido, usar determinado brinquedo, realizar um passeio ou mesmo o acesso ao celular/ videogame. Tais “retiradas de direito” podem ser altamente eficientes para colocar limites, pois como as crianças são bem apegadas com alguns objetos, ao perdê-los temporariamente, elas rapidamente assimilam que é necessária uma mudança de comportamento para que não ocorra a privação.
Apesar desse método ser questionado por alguns especialistas, colocar a criança “para pensar” sobre uma atitude ruim pode ser uma boa maneira de colocar limites. Mas não basta pensar, é preciso que os pais conversem com a criança depois de um tempo para verificar se ela assimilou o que aconteceu de errado. Assim, ajudam na compreensão das consequências de um comportamento ruim.
Além das dicas práticas de como colocar limites na educação de filhos, é importante que os pais também sigam algumas recomendações visando facilitar o processo:
- Os pais devem sempre conversar entre si para que ambos falem a mesma linguagem e tenham as mesmas atitudes no processo de estabelecer limites a todos os filhos;
- Não tenha medo de impor regras, pois elas são necessárias ao desenvolvimento infantil e a construção da personalidade e caráter;
- Mantenha sua postura e seu papel materno/ paterno (“autoridade”) diante de seu filho;
- Comunique os limites e as consequências do não cumprimento destes de forma clara, procurando ser justo e coerente;
- Mantenha seu posicionamento após a quebra de uma regra, retomando os acordos e combinados;
- Após a “retirada de direito” não fique revivendo ou remoendo o acontecido para evitar sentimentos de culpa ou frustração;
- Seja um bom exemplo para seu filho, pois as crianças aprendem bastante por observação ou imitação;
- Não aceite as regras impostas pelos filhos, mas esteja sempre aberto a dialogar;
- Caso tenha dúvidas ou dificuldades no processo, procure ajuda profissional de especialistas como psicólogos, pedagogos, educadores e outros para obter apoio, respaldo e segurança;
Não existem receitas prontas ou mesmo qualquer tipo de manual que nos ensine como criar nossos filhos. Aprendemos por experiência, insistência, tentativas e erros e algum desgaste, trazendo muito daquilo que vivenciamos no passado com nossos pais e que acreditamos ser correto. Talvez a dica fundamental seja não desanimar ou desistir do processo de colocar limites na educação de seu filho, eles são essenciais e no futuro, ele irá agradecer!
Bruna Misson
Psicóloga
brunamisson@gmail.com
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